domingo, 11 de dezembro de 2011

"A serenidade não é feita nem de troça nem de narcisismo,
é conhecimento supremo e amor, afirmação da realidade,
atenção desperta junto à borda dos grandes fundos e de todos os abismos;
é uma virtude dos santos e dos cavaleiros,
é indestrutível e cresce com a idade e a aproximação da morte.
É o segredo da beleza e a verdadeira substância de toda a arte.

O poeta que celebra, na dança dos seus versos, as magnificências
e os terrores da vida, o músico que lhes dá os tons de duma pura
presença, trazem-nos a luz; aumentam a alegria e a clareza sobre a Terra,
mesmo se primeiro nos fazem passar por lágrimas e emoções dolorosas.
Talvez o poeta cujos versos nos encantam tenha sido um triste solitário,
e o músico um sonhador melancólico: isso não impede que as suas
obras participem da serenidade dos deuses e das estrelas.
O que eles nos dão, não são mais as suas trevas, a sua dor ou o seu medo,
é uma gota de luz pura, de eterna serenidade.
Mesmo quando povos inteiros, línguas inteiras, procuram explorar as profundezas
cósmicas em mitos, cosmogonias, religiões,
o último e supremo termo que poderão atingir é essa serenidade."




Hermann Hesse - O Jogo das Contas de Vidro

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