segunda-feira, 13 de junho de 2011

"Um naufrágio. Um atol. Sozinho com a tiritante filha de uma
passageira que se afogou.
Minha querida, isto é só uma brincadeira!
Que maravilhosas aventuras eu fantasiava, sentado no duro banco
de alguma pracinha, enquanto fingia estar imerso na leitura de
um trêmulo livro.
As ninfetas brincando em torno do palácio intelectual, como se ele
fosse uma estátua bem conhecida ou mera extensão da sombra rendada
de alguma velha árvore. Certa vez, um espécime de irretocável
beleza, vestindo uma túnica enxadrezada, plantou com intrépido seu
pé fortemente armado e, quase roçando em mim, esticou os
braços nus e esguios para apertar a correia do patim de rodas;
e eu me dissolvi ao sol, o livro servindo como folha de parreira,
quando aqueles cachos castanhos-claros caíram sobre o
joelho esfolado, e a sombra de que eu era parte palpitou e se
derreteu sobre sua radiosa perna, bem juntinho
a meu rosto camaleônico."



Lolita - Vladimir Nabokov

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