quarta-feira, 13 de março de 2013

“Quando vi na Checoslováquia as primeiras habitações sociais, julguei estar
a ver a própria manifestação do horror comunista. Só mais tarde compreendi
que o comunismo me mostrava, numa versão hiperbolizada ou caricatural,
os traços comuns do mundo moderno. A mesma burocratização omnipresente.
A luta de classes substituída pela arrogância das instituições com os utentes.
A degradação do saber artesanal. A imbecil juvenofilia do discurso oficial.
As férias organizadas em manadas. A fealdade do campo donde desaparecem
as marcas da mão camponesa. A uniformização. E, entre todos esses denominadores
comuns, o pior de todos: a falta de respeito pelo indivíduo e pela sua vida privada…

A experiência do comunismo afigura-se-me uma excelente introdução

ao mundo moderno em geral; tornou-me mais sensível aos fenómenos absurdos
que estamos prontos a ver aqui como sendo de uma inocente banalidade
ou como um atributo necessário da Santa Democracia.”



Milan Kundera

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