quarta-feira, 24 de abril de 2013

Como chateia isso de ouvir
ladrarem os cães à noite!
E o pior é que nem sou fumante.
Folheio uma revista, ligo
e desligo a TV, preparo um chá.
Que fôlego têm esses cães!
Deviam ser políticos.
Sorvo meu chá e reconheço
que encalhei nos sargaços,
prendeu-se a aba da vida
numa rebarba da cerca
e aqui estou, entre a xícara
e o Universo, perplexo.
Minha voz resmunga e eu me assusto;
só me faltava dar em falar sozinho!
Porra, será que esses malditos cães
não tem um osso para roer?!
Abandonei o fumo, deixei de beber
e confesso que me sinto muito pior.
Antes, ao menos, eu acendia um cigarro
ou brincava com as pedras de gelo e tudo
ia tomando seu lugar. Mas essa
de estar aqui sentado numa poltrona,
como quem espera sua vez no dentista,
é mesmo uma grande chatice.
Amanhã não vou ao trabalho.
Que diabo vou fazer lá se nem mesmo sei
o que ando a fazer no mundo?!
Escrevo uma carta simples, objetiva,
meto-a no correio e depois vou ao cinema.
Para sempre. Lá ao menos a vida se resolve
em duas horas, com direito
a jornal, desenho animado e trailer.
Por que será que os cães deixaram de latir?




Eduardo Alves da Costa -  Poesia Reunida

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