terça-feira, 16 de abril de 2013


OS NOMES

Duas vezes se morre:

Primeiro na carne, depois no nome.

A carne desaparece, o nome persiste mas

Esvaziando-se de seu casto conteúdo

– Tantos gestos, palavras, silêncios –

Até que um dia sentimos,

Com uma pancada de espanto (ou de remorso?)

Que o nome querido já não nos soa como os outros.

Santinha nunca foi para mim o diminutivo de Santa.

Nem Santa nunca foi para mim a mulher sem pecado.

Santinha eram dois olhos míopes, quatro incisivos claros à flor da boca.

Era a intuição rápida, o medo de tudo, um certo modo de dizer “Meu Deus, velei-me”.

Adelaide não foi para mim Adelaide somente.

Mas Cabeleira de Berenice, Inominata, Cassiopéia.

Adelaide hoje apenas substantivo próprio feminino.

Os epitáfios também se apagam, bem sei.

Mas lentamente, porém, do que as reminiscências

Na carne, menos inviolável do que a pedra dos túmulos.




MANUEL BANDEIRA
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário