sábado, 11 de maio de 2013

INICIAÇÃO

 
Não dormes sob os ciprestes,
Pois não há sono no mundo...

O corpo é a sombra das vestes
Que encobrem teu ser profundo.

Vem a noite, que é a morte,
E a sombra acabou sem ser.

Vais na noite só recorte,
Igual a ti sem querer.

Mas na Estalagem do Assombro
Tiram-te os Anjos a capa :

Segues sem capa no ombro,
Com o pouco que te tapa.

Então Arcanjos da Estrada
Despem-te e deixam-te nu.

Não tens vestes, não tens nada :
Tens só teu corpo, que és tu.

Por fim, na funda caverna,
Os Deuses despem-te mais.

Teu corpo cessa, alma externa,
Mas vês que são teus iguais....

A sombra das tuas vestes
Ficou entre nós na Sorte.

Não 'stás morto, entre ciprestes...
Neófito, não há morte.
 
 
FERNANDO PESSOA


Nenhum comentário:

Postar um comentário