terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Diria que a quantidade de tédio, se o tédio pudesse ser medido,

é hoje muito maior do que antigamente. Porque as profissões

de outrora, pelo menos para boa parte das pessoas, seriam

inconcebíveis sem um apego passional: os camponeses apegados

a sua terra; os sapateiros, que conheciam de cor os pés de todos

os moradores do povoado; os guardas-florestais; os jardineiros;

acho que até mesmo os soldados matavam com paixão.

O sentido da vida não era um problema, estava com eles, de

modo inteiramente natural, em suas oficinas, em suas terras.

Cada profissão criava sua própria mentalidade, sua própria

maneira de ser. Um médico pensava de forma diferente de um

camponês, um militar tinha um comportamento diferente de

um professor.

Hoje somos todos parecidos, todos unidos pela indiferença

comum em relação ao nosso trabalho. Essa indiferença se

tornou paixão. A única grande paixão coletiva do nosso

tempo.



A IDENTIDADE - MILAN KUNDERA

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