sábado, 23 de outubro de 2010

"... De pé no meio do Areópago, Paulo falou:

- Cidadãos atenienses, vejo que sob todos os aspectos, sois os mais religiosos dos homens. Pois, percorrendo a vossa cidade e observando os vossos monumentos sagrados, encontrei até um altar com a inscrição: " Ao Deus Desconhecido".


( Ato dos Apóstolos)

Os gregos inventaram a geometria, a filosofia e a democracia, eram gente bastante precavida. Eles imaginavam que, para além do seu horizonte, deviam existir muitos deuses, ultrapassados ou ainda por vir, e que sempre faltaria pelo menos um nos seus templos. Dedicar um altar ao esquecido já era acalmar um pouco a sua cólera.

Paulo pregou, convencido de que seu deus era o desconhecido pelo qual o mundo antigo esperava ansiosamente.

Contudo, de tempos em tempos, a humnanidade substitui a cabeça de seus ídolos. Só o pedestal fora feito pra ficar.


" Eu sou Aquele que sou" - sou o ser cuja essência está no jogo do esconde-esconde, no ato de ocultar a minha face e de voltar por trás para vos pegar. Milênio após milênio. No fundo, eu sou a própria poesia: um mito que diz a verdade. E a verdade é que vós não podeis dispensar um poema, um sonho coletivo, uma faísca do além, se quereis viver e não apenas subsistir. Sois pequenos demais para conseguir isso sozinhos. Esquecei os números. Poderesi chegar a 5, e até 10 bilhões sobre a Terra, sem preencher a vossa insuficiência ontológica. Estareis sempre em falta. Sugeri que era culpa vossa, com a história do pecado original, para criar uma história e de passagem fazer de vós os culpados. Era, fiquem sabendo, força de expressão. Procurai outros deuses, se isso vos agrada, mas não escapareis à vertical. A gente se encontra. Ou Eu ou um Outro..."


RÉGIS DEBRAY

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