terça-feira, 19 de outubro de 2010

" Os ídolos rodopiam, no entanto o eixo do carrossel, o crente
incorrigível, está sempre disponível para um novo turno de fé.
A nossa maneira de crer muda com os nossos dispositivos,
mas não a nossa disposição de acreditar. Por quê? Porque,
em virtude de uma incompletude que nos incomoda muito
mas que escapa à nossa vontade, não podemos fazer corpo
com nossos semelhantes para edificar personalidades coletivas,
distintas e duráveis, sem nos abrir a "algo que nos supere".
Pascal constatou : " O homem ultrapassa infinitamente o
homem". A imanência do sistema social não está em condições
de neutralizar, sozinha, as forças de morte e divisão, sem um
ponto de referência exterior e que não pode pertencer ao
sistema fundado por variações religiosas. O recrescimento
místico seria, então, inelutável e ninguém está em condições
de prever o seu fim. O progresso dos conhecimentos e das
ferramentas não fará, sem dúvida, cessar a pulsão vital
das crenças, e das violências a elas associadas."


Régis Debray

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