sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Corremos dentro dos corpos como o sangue, corremos dentro
dos corpos no momento em que abismos os puxam e devoram.
Atravessamos cada ramo das árvores interiores que crescem
do peito e se estendem pelos braços, pelas pernas, pelos olhares.
As raízes agarram-se ao coração e nós cobrimos cada dedo fino
dessas raízes que se fecham e apertam e esmagam essa pedra de fogo.
Como sangue, somos lágrimas. Como sangue, existimos dentro
dos gestos. As palavras são, tantas vezes, feitas daquilo que
significamos. E somos o vento, os caminhos do vento sobre os rostos.
O vento dentro da escuridão como o único objeto que pode ser
tocado. Debaixo da pele, envolvemos as memórias, as ideias,
a esperança e o desencanto.

José Luís Peixoto - 'Antídoto'

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