terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Os soldados e comandantes mantém ainda entre eles relações de natureza superior às que existem entre operários e patrões. Por enquanto, pelo menos, qualquer civilização de tipo militar encontra-se bem acima daquelas a que se dá o nome de industriais: estas, sob o seu aspecto atual, são a mais vulgar forma de existência que foi possível ver até hoje. Elas são regidas somente pela necessidade: quer-se viver e se vê obrigado a vender-se, mas despreza-se aquele que explora esta necessidade e que compra o operário. Singularmente, existe menos dificuldade em se submeter a pessoas poderosas que inspiram o receio, mesmo o terror, aos tiranos e aos comandantes de exército, do que a desconhecidos sem interesse, como o são todos os magnatas da indústria. Normalmente, o operário só vê no patrão um cão astuto, um vampiro que especula com todas as misérias e cujo nome, pessoa, costumes e reputação lhe são perfeitamente indiferentes. Os fabricantes e os grandes negociantes mostraram provavelmente até aos nossos dias a falta desses sinais que distinguem a raça superior, que tornam interessante uma personalidade; se tivessem tido, no olhar e no gesto, a distinção da nobreza hereditária, não haveria talvez socialismo das massas. Uma vez que as massas, no fundo, estão prontas a qualquer espécie de escravidão, desde que o chefe prove incessantemente sua legitimidade, o seu direito a comandar de nascença pela nobreza da forma. O homem mais vulgar sente que a distinção não se improvisa e que deve reverenciar nela o fruto de longos períodos do tempo; a ausência de forma e a clássica vulgaridade dos fabricantes de grandes mãos vermelhas e gordas, levam, pelo contrário, a pensar que foram unicamente o acaso e a sorte que colocaram o patrão acima do outro: muito bem! Pensa ele consigo, experimentemos também o acaso e a sorte! Lancemos os dados!... E inicia-se o socialismo.

F. W. Nietzsche, Gaia Ciência, Livro Primeiro, Aforismo 40

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