quinta-feira, 22 de março de 2012

Bem, hoje que estou só e e posso ver
Com o poder de ver do coração
Quando não sou, quanto não posso ser,
Quanto, se o for, serei em vão,

Hoje, vou confessar, quero sentir-me

Definitivamente ser ninguém,
E de mim mesmo, altivo, demitir-me
Por não ter procedido bem,

Falhei a tudo, mas sem galhardias,

Nada fui, nada ousei e nada fiz,
Nem colhi as urtigas dos meus dias
A flor de parecer feliz.

Mas fica sempre, porque o pobre é rico

Em qualquer cousa, se procurar bem,
A grande indiferença com que fico,
Escrevo-o para lembrar bem.




Fernando Pessoa

Nenhum comentário:

Postar um comentário