sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

A pedra que no papel nem serve para desenhar

uma reta, dentro d'água faz círculos perfeitos.
Porque a mulher fica nua lhe damos um casaco de peles.
Sonhou que dizia: "Você é a moça dos meus sonhos".
O importante não é o relógio - são as horas.
Há gêmeos tão parecidos que o que não nos conhece

nos cumprimenta.


Não era mulher, era um modelo vivo.
O menino nasceu preto apesar de todo o esforço dos médicos.
O sacerdote deu uma topada e fez um silencio cheio de heresias.
Quando apertamos a campainha vem-nos sempre um certo

receio de que a casa vá para os ares.
Quando a igreja muda de padre parece que este

fala de um Deus novo.
A lavadeira põe o ferro em cima da roupa e o tempo passa.
De cem em cem mil anos o infinito faz um ano.
Pegamos o telefone que o menino fez com duas caixinhas

de papelão e pedimos uma ligação para a infância.
Acreditar que não acreditamos em nada é crer na

crença do descrer.
E dito e feito, tudo foi dito e nada foi feito.
O ator encarna o papel, mas em compensação o açougueiro

empapela as carnes.
Há certos indivíduos que, por terem que botar no correio

uma carta urgente, ficam apressadíssimos.
Atravessou a sala com aquele ar orgulhoso dos

belos transatlânticos.
Quem não tem lenço se despede menos.
Quem mata o tempo não é um assassino. É um suicida.
A mulher do vizinho é sempre mais magra do que a nossa.
Não aceitou o emprego de motorista de ônibus porque

detestava coisas passageiras.
O morcego é o anjo do rato.
No espelho fazemos caretas para ver se somos bonitos.
Ter mais de vinte anos sempre nos pareceu uma injustiça.



Millor Fernandes

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