terça-feira, 8 de novembro de 2011

... E escrevo como as aves redigem o seu voo: sem papel,
sem caligrafia, apenas com luz e saudade.
Palavras que, sendo minhas, não moraram nunca em mim.
Escrevo sem ter nada que dizer.
Porque não sei o que te dizer do que fomos.
Porque sou como os habitantes de Jesusalém.
Não tenho saudade, não tenho memória:
meu ventre nunca gerou vida, meu sangue não
se abriu em outro corpo.
É assim que envelheço: evaporada em mim,
véu esquecido num banco de igreja.



MIA COUTO - Jesusalém

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