quinta-feira, 21 de junho de 2012

"Não sou nenhum bicho-papão, nenhum monstro moral - sou até mesmo uma natureza
oposta à espécie de homem que até agora se venerou como virtuosa.
Cá entre nós, parece-me que justamente isso forma parte de meu orgulho.
Sou um discípulo do filósofo Dionísio, preferiria antes ser um sátiro a ser um santo.
Mas leia-se este escrito. Talvez eu o tenha conseguido, talvez não tenha ele outro
sentido senão expressar essa oposição de maneira feliz e afável.
A última coisa que eu prometeria seria "melhorar" a humanidade. Eu não construo novos ídolos;
os velhos que aprendem o que significa ter pés de barro.
Derrubar ídolos (minha palavra para ideais) - isto sim é meu ofício.
A realidade foi despojada de seu valor, seu sentido, sua veracidade, na medida em que
se forjou um mundo ideal... O "mundo verdadeiro" e o "mundo aparente" - leia-se:
o mundo forjado e a realidade...
A mentira do ideal foi até agora a maldição sobre a realidade, através dela a humanidade
tornou-se mendaz e falsa até seus instintos mais básicos -
a ponto de adorar os valores inversos aos únicos que lhe garantiriam
o florescimento, o futuro, o elevado direito ao futuro."


Friedrich Nietzche -  Ecce Homo: como alguém se torna o que é.

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