sábado, 9 de junho de 2012

Sugerido ou estimulado pelos espelhos, as águas e os irmãos gémeos, o conceito do Duplo
é comum a muitas nações. É verosímil supor que sentenças como "Um amigo é um outro eu"
de Pitágoras ou o "Conhece-te a ti mesmo" platónico se inspiraram nele.
Na Alemanha chamaram-lhe o Doppelganger, na Escócia o Fetch, porque vem buscar (fetch)
os homens para os levar à morte. Encontrar-se consigo mesmo é, portanto, ignominioso;
a trágica balada Ticonderoga de Robert Louis Stevenson refere uma lenda sobre este tema.
Recordemos também o estranho quadro How they met themselves de Rossetti.
Para os judeus, em contrapartida, o aparecimento do Duplo não era presságio de
uma morte próxima. Era a certeza de ter alcançado o estado profético.
Uma tradição recolhida pelo Talmude narra o caso de um homem à procura de Deus,
que se encontrou consigo mesmo.
No relato William Wilson de Poe, o Duplo é a consciência do herói. Este mata-o e morre.
Na poesia de Yeats, o Duplo é o nosso anverso, o nosso contrário,
o que nos complementa, o que não somos nem seremos.
Plutarco escreve que os Gregos deram o nome de "outro eu"
ao representante de um rei.
JORGE LUIS BORGES - O Livro dos Seres Imaginários

Nenhum comentário:

Postar um comentário