segunda-feira, 23 de julho de 2012

Considerando a frio, imparcialmente,
que o homem é triste, tosse e, sem embargo,
se alegra em seu peito colorido;
que a única coisa que faz é compor-se
de dias;
que é lôbrego mamífero e se penteia...

Considerando

que o homem procede suavemente do trabalho
e ressoa chefe e soa subordinado;
que o diagrama do tempo
é constante diorama em suas medalhas
e, semi-abertos, seus olhos estudaram,
desde distantes tempos,
sua fórmula famélica de massa...

Compreendo sem esforço

que o homem fica, às vezes, pensando,
como querendo chorar,
e, sujeito a estender-se como objeto,
se torna bom carpinteiro, sua, mata
e depois canta, almoça, se abotoa...

Examinando, enfim,

suas contraditórias peças, sua latrina,
seu desespero, ao terminar o dia atroz, apagando-o...

Considerando também

que o homem é na verdade um animal
e, não obstante, ao voltear, me dá com sua tristeza na cabeça...

Compreendendo

que ele sabe que o quero,
que o odeio com afeto e me é, em suma, indiferente...

Considerando seus documentos gerais

e examinando com lentes aquele certificado
que prova que nasceu muito pequenino...

faço-lhe um sinal,

vem,
e lhe dou um abraço, emocionado.
Tanto faz! Emocionado... Emocionado...


CESAR VALLEJO


Tradução de Ferreira Gullar


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