terça-feira, 31 de julho de 2012

"No encontro, maravilha-me o fato de ter achado alguém que, com pinceladas sucessivas,
sem falhas, conclui o quadro da minha fantasia; sou como um jogador cuja sorte
não se desmente e faz com que ele ponha a mão na pequena peça que vem,
já na primeira tentativa, completar o quebra-cabeça de seu desejo.
É uma descoberta progressiva (e como que uma verificação) das afinidades,
cumplicidades e intimidades que poderei manter eternamente (no meu modo de ver)
com um outro, em via de tornar-se, assim, 'meu outro':
estou inteiramente voltado para essa descoberta (e com ela estremeço)
(...). A cada instante do encontro, descubro no outro um outro eu mesmo:
Você gosta disso? Puxa, eu também! Você não gosta daquilo? Eu também não!

(...) O Encontro faz com que o sujeito amoroso (já seduzido) experimente
o atordoamento de um acaso sobrenatural:
o amor pertence à ordem (dionisíaca) do lance de dados".



Roland Barthes - "Encontro", em:
Fragmentos de um Discurso Amoroso

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