quinta-feira, 16 de agosto de 2012

“ Quando escrevo, não penso no leitor (porque o leitor é um personagem imaginário) e
não penso em mim mesmo (talvez eu também seja um personagem imaginário),
mas penso no que tento transmitir e faço de tudo para não estragá-lo.
Quando eu era jovem, acreditava na expressão. Eu lera Croce, e a leitura de Croce
de nada me serviu. Eu queria expressar tudo. Pensava, por exemplo, que , se
precisava de um pôr do sol, devia encontrar a palavra exata para o pôr do sol
– ou melhor, a mais surpreendente metáfora. Agora cheguei à conclusão
(e essa conclusão talvez soe triste) de que não acredito mais na expressão:
acredito somente na alusão. Afinal de contas, o que são as palavras?
As palavras são símbolos para memórias partilhadas. Se uso uma palavra, então
vocês devem ter alguma experiência do que essa palavra representa.
Senão a palavra não significa nada para vocês. Acho que podemos apenas aludir,
podemos apenas tenta fazer o leitor imaginar.
O leitor, se for rápido o suficiente, pode fica satisfeito com nossa mera alusão a algo. "


JORGE LUIS BORGES - ESSE OFÍCIO DO VERSO

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