terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Um estranho paradoxo: as pessoas, quando agem, têm em mente o
interesse privado mais mesquinho, mas ao mesmo tempo,
no seu comportamento, são mais do que nunca determinadas
pelo instinto das massas. E mais do que nunca, o instinto das massas
tornou-se errado.
O obscuro instinto do animal - como inúmeros episódios o comprovam -
encontra a saída para o perigo iminente mas ainda invisível.
Em contrapartida, esta sociedade, onde cada um tem apenas em vista
o seu próprio interesse mesquinho, sucumbe como uma massa cega,
com estupidez animal mas sem a estúpida sabedoria dos animais,
a todo o perigo, ainda que muito próximo,
e a diversidade dos objetivos torna-se insignificante,
ante a identidade das forças determinantes.
Muitas vezes se tem demonstrado que é tão rígida a sua
fixação à vida habitual, mas de há muito perdida, que acaba por
não se verificar a aplicação efectivamente humana do intelecto,
a previdência, até mesmo ante o perigo iminente.
Assim a imagem da estupidez completa-se nela:
insegurança, ou mesmo perversão dos instintos vitais,
e desfalecimento ou até decadência do intelecto.

Walter Benjamin

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