sexta-feira, 12 de março de 2010

"Como é que te chamas?"



Começo por pensar que todas as pessoas são iguais.
Talvez por comodidade, talvez por segurança, começo
por supor que todas as pessoas, na sua infinita variedade
de passados, presentes e futuros, são iguais. É partindo
desse pressuposto que digo "nós". Não o "nós" de apenas
eu e tu, não o "nós" de país ou língua, mas o "nós" meu,
teu e deles, de países e línguas, de todos aqueles que não
nos estão a ouvir. E digo: nós temos um mundo no nosso
interior. Digo: é fascinante a história de tudo aquilo que
fomos, que passou e que nunca foi esquecido porque nunca
foi identificado. Sem que nunca tenha sido arquivado de
uma forma consistente, catalogado ou sequer registado,
acabamos por chamar "caos" ou "alma" a esse mundo.
Na fila do supermercado ou numa esplanada, junho,
acabamos por chamar-lhe "pensamento". E mesmo
durante o instante em que dizemos essa palavra,
"pen-sa-men-to", somos assaltados por uma sucessão
de frases, sobrepostas às vezes, ou por imagens,
ou por melodias, ou por palavras soltas, ou por tudo isto,
sobreposto, misturado, em luta ou em harmonia.



José Luis Peixoto - escritor português

Nenhum comentário:

Postar um comentário