terça-feira, 23 de março de 2010

Só em mim, o solitário, brilham interminaveis as estrelas da noite. A
fonte de pedra suspira a sua canção mágica, a mim, só a mim, o que

as sombras coloridas das nuvens errantes, movem como sonhos sobre o
campo aberto. Nem casa nem terra cultivada, nem floresta, nem
privilégios de caça me são concedidos. O que me pertence, não pertence
a ninguém, O caminho estreito, mergulhado por trás do véu dos bosques,
o mar assustador, o som de um pássaro na brincadeira das crianças, O
choro e o canto, de noite, em solidão, de um homem secretamente
apaixonado. Os templos dos deuses também são minas, e minam os bosques
aristocráticos do passado. E não menos, a abóbada luminosa do céu que é
no futuro a minha casa: Frequentemente em pleno vôo de desejo, sobem
acima as minhas tempestades de alma, para fixar no futuro de homens
benditos, amor, superando a lei, amor das pessoas às pessoas. De novo
os encontro, nobremente transformados: fazendeiro, rei, comerciante,
marinheiro ocupado, pastor e jardineiro, todos eles agradecidamente,
celebram o festival do mundo futuro. Só o poeta perde, o solitário que
olha, o portador de desejo humano, a imagem pálida da incerteza do
futuro. A realização do mundo não tem mais nenhuma necessidade. Muitas
flores Murcham na sua sepultura, mas ninguém se lembra-se dele.


HERMANN HESSE

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