terça-feira, 8 de setembro de 2009

Mergulhar no pensamento pode ser como mergulhar em contos

infantis, podemos ser uma espécie de Alice deslumbrada.

Podemos também encontrar masmorras e prisões perpétuas.

Depende daquilo que procurarmos. Mais incrível do que não

termos sempre esta consciência de nós próprios é o tão pouco

que temos esta mesma consciência em relação aos outros.

Está uma mulher sentada à nossa frente no autocarro, está o

nosso pai, estás tu, e não somos sempre capazes de imaginar

que, depois do rosto, ou sobre o rosto, invisível, está um choque

frontal de palavras, está uma intermitência de frases, está uma

imagem fixa, melodia, timbre de voz, etc. Apesar de já ter sido

usado neste texto, "pensamento" parece-me um termo desadequado

porque implica atenção. Estas palavras e imagens e melodias

organizam-se em enxame. Mesmo quando oferecemos a atenção ao

mundo, elas continuam lá, dentro de nós como se estivessem

à nossa volta.


José Luis Peixoto - escritor português

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