quinta-feira, 10 de maio de 2012

                                                     ADRIAN BORDA



Como escritor, poderá alguém fazer a experiência de que quanto
mais precisa, esmerada e adequadamente se expressar, tanto mais
difícil de entender será o resultado literário, ao passo que quando
o faz de forma laxa e irresponsável se vê recompensado com uma
segura inteligibilidade. De nada serve evitar asceticamente todos
os elementos da linguagem especializada e todas as alusões a

esferas culturais não estabelecidas. O rigor e a pureza da textura
verbal, inclusive na extrema simplicidade, criam antes um vazio.
O desmazelo, o nadar com a corrente familiar do discurso, é um
sinal de vinculação e de contacto: sabe-se o que se quer porque
se sabe o que o outro quer. Enfrentar a coisa na expressão, em vez
da comunicação, é suspeitoso: o específico, o que não está
acolhido no esquematismo, parece uma desconsideração, um
sintoma de excentricidade, quase de confusão. A lógica do nosso
tempo, que tanto se ufana da sua claridade, acolheu ingenuamente
tal perversão na categoria da linguagem quotidiana.
A expressão vaga permite a quem a ouve ter uma ideia aproximada
do que é que lhe agrada e do que, de qualquer modo, opina.
A rigorosa exige a univocidade da concepção, o esforço do conceito,
qualidades de que os homens conscientemente se desacostumam,
e encoraja-os à suspensão dos juízos correntes perante todo o
conteúdo e, assim, a uma automarginalização a que energicamente
resistem. É-lhes inteligível só o que não precisam de compreender;
só o verdadeiramente alienado, a palavra cunhada pelo comércio,
os afeta como familiar que é. Poucas coisas há que tanto contribuam
para a desmoralização dos intelectuais. Quem pretender evitá-la deverá,
em todo o conselho de atender só à comunicação, vislumbrar
uma traição ao comunicado.


THEODORE ADORNO

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