segunda-feira, 7 de maio de 2012

"A arte é a sombra do homem projetada sobre a natureza. Que desapareçam
juntos, sorvidos pelo sol!
O imenso tesouro da natureza passa através de
nossos dedos. A inteligência humana quer colher a água que corre nas
malhas de uma rede. Nossa música é ilusão. A nossa escala de sons,
as nossas gamas são invenções. Não correspondem a nenhum som existente.
É uma convenção do espírito entre os sons reais, uma aplicação do
sistema métrico ao infinito móbil. O espírito carecia dessa mentira para
compreender o incompreensível; e, como queria nele acreditar, acabou
acreditando. Mas isso não é verdade. Isso não tem vida. E a satisfação
que proporciona ao espírito essa ordem criada por ele, só foi conseguida
ao falsearmos a intuição direta do que existe. De tempos em tempos, em
contato passageiro com a terra, um gênio entrevê bruscamente a
torrente da realidade que está fora dos quadros da arte.
Racham-se as represas. A natureza torna a entrar por uma frincha.
Mas logo depois a brecha é tapada. Salvaguarda necessária à razão humana!
Esta pereceria, caso seus olhos encontrassem o de Jeová."



ROMAIN ROLLAND

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