quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A Formalística


O poeta cerebral tomou café sem açúcar
e foi pro gabinete concentrar-se.
Seu lápis é um bisturiqu e ele afia na pedra,
na pedra calcinada das palavras,
imagem que elegeu porque ama a dificuldade,
o efeito respeitoso que produz
seu trato com o dicionário.
Faz três horas já que estuma as musas.
O dia arde. Seu prepúcio coça.
Daqui a pouco começam a fosforecer coisas no mato.
A serva de Deus sai de sua cela à noite e caminha
na estrada, passeia porque Deus quis passear
e ela caminha.
O jovem poeta, fedendo a suicídio e glória,
rouba de todos nós e nem assina:
'Deus é impecável'.
As rãs pulam sobressaltadas e o pelejador
não entende, quer escrever as coisas
com as palavras.


Adélia Prado

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