domingo, 25 de outubro de 2009

Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: o suicídio.
Julgar se a vida merece ou não ser vivida é responder uma
questão fundamental da filosofia. O resto, se o mundo tem três
dimensões, se o espírito tem nove ou doze categorias, vem
depois. Trata-se de jogos; é preciso primeiro responder.
E se é verdade, como quer Nietzsche, que um filósofo, para
ser estimado, deve pregar com o seu exemplo, percebe-se
a importância dessa reposta, porque ela vai anteceder o gesto
definitivo. São evidências sensíveis ao coração, mas é preciso
ir mais fundo até torná-las claras para o espírito. Se eu me
pergunto por que julgo que tal questão é mais premente que
tal outra, respondo que é pelas ações a que ela se compromete.
Nunca vi ninguém morrer por causa do argumento ontológico.
Galileu, que sustentava uma verdade científica importante,
abjurou dela com a maior tranqüilidade assim que viu sua
vida em perigo. Em certo sentido, fez bem. Essa verdade não
valia o risco da fogueira. Qual deles, a Terra ou o Sol gira em
redor do outro, é-nos profundamente indiferente.


O Mito de Sísifo - Albert Camus

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