domingo, 22 de novembro de 2009

Estamos vivendo num tempo inimigo da solidão.
Esta é sempre pensada numa lógica negativa.
Pessoa só = pessoa triste ou com problemas. Creio que a solidão
é muito mais que isso. Mas das delícias da solidão somos privados.
A sociedade não permite ao individuo nenhum momento de paz.
Há sempre algo que o convida, que o seduz, que clama por atenção.
Entre propagandas, entre inúmeras informações, entre vastos
entretenimentos, a subjetividade do individuo é solapada para
a alienação de si. Tudo lhe chega, tudo ele absorve.
Mas pouco faz com esse mundo que se tornou grande demais
porque o que falta agora é consciência de si, trabalho de si.
Não há tempo para o nosso encontro.
Vale lembrar o que disse Vergílio Ferreira acerca da solidão:
" A solidão tem que ver conosco, não com os outros ;
e o isolamento é só com os outros que tem que ver.
O isolamento gera-se numa dimensão física; a solidão,
numa dimensão metafísica. Assim, a solidão exprime
apenas a ambiência de uma autenticidade."
A questão é que hoje a contemporaneidade não permite ao
indivíduo nem a possibilidade desta dimensão física do
isolamento para talvez se chegar na dimensão metafísica
da solidão. Uma solidão desejada, onde o indivíduo encontra-se
para extrair de si algo originário. Penso naqueles que não a
procuram e que apenas se consomem na outra solidão, naquela
dogmatizada como uma patologia. Perdem algo muito valioso,
inolvidável e intransferível. Pois, o que pode dizer de substancial
o individuo - e a sociedade que o gera e o representa
- que não sabe nada de si?

Lu

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