segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Se quiseres fazer azul, pega num pedaço de céu e
mete-o numa panela grande, que possas levar ao
lume do horizonte; depois mexe o azul com um
resto de vermelho da madrugada, até que ele se
desfaça; despeja tudo numa bacia bem limpa, para
que nada reste das impurezas da tarde. Por fim,
peneira um resto de ouro da areia do meio-dia,
até que a cor pegue ao fundo de metal.
Se quiseres, para que as cores não se desprendam
com o tempo, deita no líquido um caroço de pêssego
queimado. Vê-lo-ás desfazer-se, sem deixar sinais
de que alguma vez ali o puseste; e nem o negro da
cinza deixará um resto de ocre na superfície dourada.
Podes, então, levantar a cor até à altura dos olhos,
e compará-la com o azul autêntico.
Ambas as cores te parecerão semelhantes, sem que
possas distinguir entre uma e outra.


NUNO JUDICE

Nenhum comentário:

Postar um comentário